POEMA

SOLIDARIEDADE


Vamos, dêem as mãos.

Porquê esse ar de eterna desconfiança?
esse medo, essa raiva?
Porquê essa imensa barreira
entre o Eu e o Nós na natural conjugação do verbo ser?

Vamos, dêem as mãos.

Para quê esses bons-dias, boas-noites,
se é um grunhido apenas e não uma saudação?
Para quê esse sorriso
se é um simples contrair de pele e nada mais?

Vamos, dêem as mãos.

Já que a nossa amargura é a mesma amargura,
já que a miséria para nós tem as mesmas sete letras,
já que o sangrar dos nossos corpos é o vergão da mesma chicotada,
fiquemos juntos,
sejamos juntos.
Porquê esse ar de eterna desconfiança?
esse medo, essa raiva?

Vamos, dêem as mãos.


Mário Dionísio

6 comentários:

  1. Fulgurante e comovente poema! Solidariedade, uma das palavras mais belas.
    Dá-nos mais Mário Dionísio, esse ENORME poeta.

    ResponderEliminar
  2. Belo esforço, Mário Dionísio (e Fernando Samuel), mas temo que não vá ser nos próximos tempos...
    Podes no entanto contar com alguns de nós!

    Abraço

    ResponderEliminar
  3. Nem sempre as palavras puras e belas, demovem os interesses,- é pena, talvez a insistência!
    As palavras do Mário Dionísio -são uma fortaleza.
    Abraço
    José Manangão

    ResponderEliminar
  4. justine: já «postei» mais um Mário Dionísio, correspondendo ao teu pedido.
    Um beijo amigo.

    samuel: aí está o mais importante: podermos «contar com alguns de nós»..
    Abraço amigo.

    josé manangão: uma fortaleza com sementes de futuro, não é?
    Abraço amigo.

    ResponderEliminar