MENINA FÚTIL
A menina fútil deu um bodo aos pobres;
pela primeira vez pôs avental...
Falou do gesto e seus intuitos nobres,
com palavrinhas brandas, o jornal...
- Os pobres ficaram pobres
e a menina fútil nunca mais pôs avental...
A menina fútil tem um cão de raça
que nunca saiu do quintal
e nunca viu uma cadela...
- Para a menina fútil, o seu cão de raça
deixou de ser um animal
e é um cãozinho de flanela...
... e a menina fútil tem um namorado
e atira-lhe promessas da janela...
Promessas... porque o resto era pecado
e pecar não é com ela...
(Fica sempre na rua, o namorado,
e é tão distante a janela...)
Mas a menina fútil tem um namorado;
tem um cão como feito de flanela;
e anda feliz por dar um bodo aos pobres
e ter descido a pôr um avental...
Lê e relê os seus intuitos nobres;
recorta o seu retrato do jornal;
- e os pobres continuam pobres,
e a menina fútil nunca mais põe avental...
Sidónio Muralha
Incrível, este grande poema parece ter sido feito este ano.
ResponderEliminarAfinal fúteis sempre existiram.
BJS,
GR
Conheço algumas pessoas assim. Moram um pouco por todo o lado, mas concentram-se, de preferência, perto umas das outras. Para se protegerem, creio...
ResponderEliminarUm beijo grande.
Quantas e quantas vezes este poema foi lido e utilizado por mim nos anos da minha juventude!!!
ResponderEliminarGrande Sidónio Muralha, um dos meus mestres.
Um beijo.