POEMA

AUTO-RETRATO


O'Neill (Alexandre), moreno português,
cabelo asa de corvo; da angústia da cara,
nariguete que sobrepuja de través
a ferida desdenhosa e não cicatrizada.
Se a visagem de tal sujeito é o que vês
(omita-se o olho triste e a testa iluminada)
o retrato moral também tem os seus quês
(aqui, uma pequena frase censurada...)
No amor? No amor crê (ou não fosse ele O'Neill!)
e tem a veleidade de o saber fazer
(pois amor não há feito) das maneiras mil
que são a semovente estátua do prazer.
Mas sofre de ternura, bebe demais e ri-se
do que neste soneto sobre si mesmo disse...


Alexandre O'Neill


(Assim termina este convívio do Cravo de Abril com a poesia de Alexandre O'Neill.
O próximo convidado - que, aliás, por aqui tem passado com justificada frequência - é Armindo Rodrigues)

4 comentários:

  1. Irónico sempre, sabendo rir dele próprio. Divertido!!

    ResponderEliminar
  2. Belíssima passagem de testemunho!

    Abraço.

    ResponderEliminar
  3. É este o O'Neill que conheço!
    E gosto muito do convidado que se segue.

    Um beijo grande.

    ResponderEliminar
  4. Auto retrato bem irónico, parafraseando Bocage.
    Que bom vir aí o Armindo Rodrigues.

    Um beijo.

    ResponderEliminar