POEMA

ANGINA DE PEITO


Se metade do meu coração está aqui, doutor,
a outra metade está na China,
no exército que desce em direcção ao Rio Amarelo.

E depois, todas as manhãs, doutor,
o meu coração é fuzilado na Grécia.

E depois, quando os prisioneiros mergulham no sono,
quando a calma regressa à enfermaria,
o meu coração parte, doutor,
todas as noites
parte para uma casa
velha de madeira em Tchamlidja.

E depois, faz dez anos, doutor,
que nada tenho nas mãos para oferecer ao meu pobre povo,
só uma maçã,
uma maçã vermelha: o meu coração.

É por isso, doutor,
e não por causa da arteriosclerose, da nicotina, da prisão,
que tenho esta angina de peito.

Olho à noite por entre as grades
e apesar de todas as paredes que me pesam no peito,
o meu coração bate ao ritmo da estrela mais longínqua.


Nâzim Hikmet

7 comentários:

  1. Cada vez mais maravilhosos estes poemas.
    Grande herói o poeta.

    Um beijo.

    ResponderEliminar
  2. A dor de coração é mais do que física... é emotiva, é ideológica, é do hemisfério dos sentimentos...
    beijo,

    ResponderEliminar
  3. Para um comunista e para aqueles que amam a Humanidade, o coração sofre e está com os que lutam por uma vida melhor dos povos.

    Um Abraço.

    ResponderEliminar
  4. Grande Homem/Poeta, com coração de verdadeiro cidadão do mundo...

    Como me sinto pequenina perante a sua imensa grandiosidade!

    Um abraço

    ResponderEliminar
  5. Belíssimo poema!
    Grande poeta, enorme o coração!

    Um beijo grande.

    ResponderEliminar
  6. samuel: com um coração assim tudo é superável...
    Um abraço.

    Graciete Rietsch: Hikmet é, de facto, um GRANDE POETA.
    Um beijo.

    smvasconcelos: é a dor das injustiças...
    Um beijo.

    Nelson Ricardo: o nosso coração é do tamanho do mundo.
    Um abraço.

    Anjos: deves sentir-te grande por gostares de tais poemas...
    Um abraço.

    Maria: Hikmet tinha a notável capacidade de fazer obras primas como é este poema.
    Um beijo grande.

    ResponderEliminar