POEMA

OS AMIGOS COERENTES


Minha geração
tem os gestos rudes
do semeador
e as mãos calejadas
de quem dá aos sonhos
contornos precisos
dos dois pés na terra,
da quilha que singra,
do arado que rasga,
do rasgo que cria.

Fomos perseguidos
porque a nossa falta
era a lucidez
e a coragem de
apontar os crimes
sem lhes dar perdão,
porque perdoar
é ser conivente
e essa conivência
é igual ao crime.


Sidónio Muralha

(«Poemas de Abril» - 1974)

7 comentários:

  1. Exactamente como eu penso. Há crimes imperdoáveis e "a conivência é igual ao crime".
    Tantos exemplos temos na nossa História mesmo recente!
    Um beijo

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  2. A perseguição nunca acabou.
    Os crimes a denunciar, continuam.

    Abraço.

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  3. Exactamente!
    Belo e lúcido este poema.

    Um beijo grande

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  4. A coerência é dos valores mais admiráveis que nos assiste, e que mais dignifica a nossa causa.
    beijo

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