POEMA

SERENIDADE


Serenidade podre como um peixe a boiar.
Paisagem de papel azul esconde a paisagem humana.
As árvores tormentadas são pintadas de luar
e os frutos são de cera, e os ninhos de porcelana.

Serenidade da violência mascarada de afago,
serenidade dos gritos camuflados de trilos,

serenidade como o espelho de um lago
infestado de crocodilos.


Sidónio Muralha

(«Companheira dos Homens» - 1950)

6 comentários:

  1. Fizeste de prepósito? é que se esta poesia tivesse sido escrita hoje, ela identificava o momento presente na perfeição.
    A visão do Sidónio Muralha, era de um verdadeiro homem comunista.
    Obrigado camarada!
    Abraço

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  2. Uma serenidade como a paz podre que começa a fermentar para depois explodir nas ruas, em Luta! É isso!

    Um beijo grande.

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  3. Eu acho que hoje existe uma grande revolta camuflada pelo conformismo.
    O povo esquece-se da sua força porque migalha aqui, migalha ali, lá vai sobrevivendo.
    É preciso, é urgente,denunciar "essa serenidade infestada de crocodilos" que Sidónio Muralha tão bem descreve.
    Um beijo camarada.

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  4. A paz podre já foi descrita de muitas formas; mas esta...

    Abraço.

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  5. Quando a falsa paz é imposta vai crescendo o inconformismo e com ele a revolta.
    Temos que ser prudentes quando a agitação estalar nas ruas, haverá muito joio no meio do trigo!

    Mais um belíssimo e intemporal poema.

    Bjs,

    GR

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  6. poesianopopular: ele - o Sidónio Muralha - é que fez de propósito...
    Um abraço.

    Maria: e explodirá, mais tarde ou mais cedo...
    Um beijo grande.

    Graciete Rietsch: no meio da política de direita, os crocodilos espreitam...
    Um beijo.

    samuel: ...é notável...
    Um abraço.

    GR: quando isso chegar...
    Um beijo.

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