POEMA

COMPATRIOTA


Que todos os meus anseios de poeta
possam cair no teu regaço,
velha lutadora, velha analfabeta
que não sabes dos versos que te faço.

Vejo-te de joelhos,
de joelhos e de mãos postas,
de joelhos e de mãos postas num velho esfregão
lavando, lavando casas...
A tua cabeça branca é uma acusação
- passa um poeta - e a acusação tem asas.

Velha que conheceste algumas gerações
e devias ser tratada como os doentes e as crianças
- atira o teu esfregão contra os nossos corações
e grita nos meus versos agudos como lanças.


Sidónio Muralha

(«Companheira dos Homens» - 1950)

7 comentários:

  1. Cortante!
    Dar asas às acusações. Continua a ser fundamental!

    Abraço.

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  2. Dizer-te que adoro este poema é banal... que seja, é que adoro mesmo. Pela crítica "bela e violenta" como definiu a Justine e sempre actual.
    beijo,

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  3. Por vezes fico a pensar, como escrevería hoje o Sidónio Muralha?
    Decerto que os gritos seriam mais agudos e as setas mais afiadas, se possível fosse.
    Abraço ao guerreiro!

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  4. Fortíssimo! E tão belo...

    Um beijo grande.

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  5. ip16: iguais saudações para ti.
    Um abraço.

    Justine: assim como um murro...
    Um beijo.

    samuel: e os poetas são aves...
    Um abraço.

    smvasconcelos: e eu também o adoro.
    Um beijo.

    poesianopopular: os problemas de hoje são tão... iguais aos de então...
    Um abraço.

    Maria: belíssimo...
    Um beijo grande.

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