POEMA

PRELÚDIO


Reteso as cordas desta velha lira,
tonta viola que de mão em mão
se afina e desafina, e donde ninguém tira
senão acordes de inquietação.

Chegou a minha vez, e não hesito:
quero ao menos falhar em tom agudo.
Cada som como um grito
que no seu desespero diga tudo.

E arrepelo a cítara divina.
Agora ou nunca - meu refrão antigo.
O destino destina,
mas o resto é comigo.


Miguel Torga

5 comentários:

  1. E o futuro é dessa canção...

    Abraço.

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  2. Que bom o Torga ter "arrepelado a lira divina" tantas vezes... e nunca desafinou.
    beijo,

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  3. A inquietação do JMB deve ter nascido aquí!
    Torga é uma fonte inesgotável de inspiração.
    Abraço

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  4. O resto é... connosco!
    Ou seja, temos o futuro nas nossas mãos!

    Um beijo grande

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  5. samuel: porque «o resto é comigo»...
    Um abraço.

    smvasconcelos: mesmo que tenha «desafinado» uma vez o outra... perdoamos-lhe...
    Um beijo.

    poesianopopular: sem dúvida.
    Um abraço.

    Maria: é isso!
    Um beijo grande.

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