POEMA

COMO NO POEMA


A chuva cai na poeira como no poema
de Li Po. No sul
os dias têm olhos grandes
e redondos; no sul o trigo ondula,

as suas crinas dançam no vento,
são a bandeira
desfraldada da minha embarcação;

no sul a terra cheira a linho branco,
a pão na mesa,
o fulvo ardor da luz invade a água,
caindo na poeira, leve, acesa.

Como no poema.


Eugénio de Andrade
(«Branco no Branco» - 1984)

6 comentários:

  1. Ah grande poeta Eugénio de Andrade! Ah grande Sul por onde passaram (passam e passarão) tantas lutas, tantas resistências e tão belos frutos!...

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  2. Escreve assim, avançado intensamente... e de repente o ritmo insinua-se em nós e brilha a faisca de uma rima...
    Grande!

    Abraço.

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  3. Já me faltam palavras para comentar poemas de Eugénio. Tão grande que ele é... tão grande...

    Outro beijo. Grande, também.

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  4. Mira http://formasenmetal.blogspot.com Saludos Manuel

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  5. Manuel Rodrigues: «é ao sul é que está o sol/é que está o sal»...
    Um abraço.

    samuel: e já nem sabemos se é apenas poesia ou se é a perfeição...
    Um abraço.

    Maria: não comentes: lê, apenas...
    Um beijo grande.

    Manuel Espiri: lá irei visitar-te. Abraço.

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