POEMA

CANÇÃO


Tu eras neve.
Branca neve acariciada.
Lágrima e jasmim
no limiar da madrugada.

Tu eras água.
Água do mar se te beijava.
Alta torre, alma, navio,
adeus que não começa nem acaba.

Eras o fruto
nos meus dedos a tremer.
Podíamos cantar
ou voar, podíamos morrer.

Mas do nome
que maio decorou,
nem a cor
nem o gosto me ficou.


Eugénio de Andrade
(«Até Amanhã» - 1951-1956)

6 comentários:

  1. "Eras o fruto
    nos meus dedos a tremer." é muito bonito! Grande Eugénio!

    Um beijo grande

    ResponderEliminar
  2. Ai Eugénio, Eugénio, como é possível escrever assim??

    ResponderEliminar
  3. "Meu amor de ser
    sem saber
    irmão
    dos teus olhos parados nos meus
    tão molhados e firmes
    como estes teus dedos
    suados e finos
    que aperto
    tremendo
    entre as minhas mãos..."

    Não conhecia este lindíssimo poema do Eugénio. É bom saber que andam no ar ventos que nos trazem a poesia dos génios, um vento que por vezes nos roça a pele, num segundo, sem sabermos...

    Abraço.

    ResponderEliminar
  4. sabe a liberdade
    o fruto que colhi
    recordar, foi ali
    num canto do passado
    de sabores presentes...
    tenho nos dentes a firmeza
    de mãos combatendo tristeza.
    abraço do vale

    ResponderEliminar
  5. Samuel

    Ainda te peço as letras deste teu disco, um dia destes... e se calhar dos outros também...

    :))

    Abreijos

    ResponderEliminar
  6. A maior tradução de sentimentos.
    Música das palavras!

    ResponderEliminar