POEMA

COBARDIA


E não diz a palavra!
Já não consegue a pura claridade
da raiva que se exprime
num grito que trespassa o firmamento!
Parafraseia a dor, como um pinheiro
que tem medo do vento
e se torce na duna, horizontal, rasteiro,
a enrodilhar a voz do sofrimento.

Filho do instinto,
perdeu a força heróica de arrancar
o aço do punhal que o atravessa.
Morre por não ter pressa
de se salvar!


Miguel Torga

6 comentários:

  1. Quanto mais se enrodilharia o cobarde, se tivesse a improvável coragem de ler estes versos?

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  2. Ana Camarra: está-lhes no sangue...
    Um beijo.

    samuel: improvável, dizes bem; mais do que improvável...
    Um abraço.

    Justine: ... e rigoroso!
    Um beijo.

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  3. Não serei original, mas é um belo retrato!

    Um beijo grande

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  4. Maria: até parece «real»...
    Um beijo grande.

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