UMA PEÇA ÚNICA

«Não escondo que vivemos tempos difíceis» - disse, ontem, o Presidente da República, em intervenção proferida na sessão comemorativa dos 98 anos da implantação da República.
E enunciou dificuldades concretas, todas reais: subida das taxas de juro, desemprego, reformas baixas, pobreza, desigualdade social, fraco crescimento económico - e muitas mais poderia enunciar se quisesse...

Naturalmente, Cavaco Silva não se debruçou sobre as causas desses «tempos difíceis» - que, aliás, não o são, bem pelo contrário, para os grandes grupos económicos e financeiros, como o PR muito bem sabe...
E, como habitualmente, sacudiu a água do capote no que respeita às suas responsabilidades directas nesses «tempos difíceis» - e muito haveria a dizer sobre os dez anos de cavaquismo, assentes numa política anti-social, antidemocrática e antipatriótica, praticada na base da mentira, da arrogância, do autoritarismo, da prepotência, da incultura; do incitamento à adopção de anti-valores humanos, como o egoísmo, o individualismo, o salve-se quem puder para o qual vale-tudo - enfim, uma década de «tempos difíceis» para Portugal e para o povo e para os trabalhadores portugueses.

No seu discurso de ontem, o PR defendeu a necessidade de se dizer a verdade sobre os «tempos difíceis» que vivemos, já que, afirmou, «a verdade gera confiança, a ilusão é fonte de descrença».
É caso para dizer: olha quem fala! - e quem fala é quem andou dez anos a mentir aos portugueses garantindo o «fim da crise», a «abundância», o «pelotão da frente na Europa», etc, etc, etc.

A finalizar, o PR deixou a habitual «mensagem de esperança, apelando ao esforço e empenho de todos os portugueses para ultrapassar a actual situação».
E proclamou: «É nestas alturas que se vê a fibra de um povo».
E aí temos o homem igual a si próprio, a repetir o que tantas vezes disse nos tais dez anos: os «sacrifícios que a situação exige», o «aperto dos cintos»... - mentindo aos portugueses, e mentindo conscientemente, porque sabia que os «sacrifícios» e o «aperto dos cintos» eram (são), sempre e só, para os que trabalham e vivem do seu trabalho, e tinham (têm) como objectivo enriquecer cada vez mais os que não trabalham e vivem à custa da exploração do trabalho alheio.

Por tudo isto, as declarações do PR pecam por hipócritas - o que lhes retira qualquer credibilidade e as transforma em puro paleio.
Paleio que, aliás, é da família do paleio do primeiro-ministro.
Quando Sócrates, no final da intervenção de Cavaco veio dizer que «há uma consonância perfeita entre o Presidente da República e o Governo», só podia estar a referir-se ao facto de o PR não ter apontado a política de direita do PS e do PSD como responsável por estes «tempos difícieis»...

E quando Sócrates comentou: «Gostei muito do discurso, em particular do apelo à mobilização dos portugueses» - estava a ser sincero. Ó se estava!...

Assim, o discurso do PR e o comentário do p-m constituem uma peça única em defesa da política de direita praticada há 32 anos pelo PS, umas vezes com D, outras vezes sem ele.
Não há dúvida: no essencial, a consonância entre ambos é perfeita - embora ambos, cada um à sua maneira, finjam que não...

10 comentários:

  1. Houve duas expressões do então primeiro ministr, que está visto não tem nada a ver com o actual Presidente da Republica que me ficaram na memória:

    "Deixem-me trabalhar!"
    "Não tenho dúvidas e raramente me engano"

    A respeito deste assunto era bom que eles deixassem de trabalhar para quem os financia, campanhas e tachos dourados, e trrabassem para quem os elegeu.
    Claro que isso não lhes passa pela cabeça, a mim também não, não espero tal coisa de tais personagens.

    Quanto á segunda frase, para um homem sem duvidas que raramente se engana é cada tiro cada melro.

    Mais empenho, mais esforço?

    Espero que o empenho e o esforço do povo Português vá no sentido de colocar estes cromos longe do poder.

    Boa analise.

    Beijos

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  2. Fernando,
    Estamos a ser governados por estes gajos há três décadas:
    PS sózinho;
    PS com D;
    PS com C;
    PS com P;
    PSD com C
    PSD com P;
    PRs.

    Temos que continuar a nossa luta, a vitória é dificil mas é nossa.
    Um Abraço

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  3. Dois abortos da brava natureza. temos que nos vermos livres deles.

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  4. Lá vem mais trabalho para nós camaradas, a banha da cobra já chegou à Presidência, que pôs o Palácio, à disposição dos portugueses, com música no jardim, distribuição de beijinhos às velhotas e às criancinhas, todas as televisões anunciaram e o Sr. Presidente confirmou as vizitas duplicaram em relação ao ano anterior estiveram no Palácio 9.324,5 e,´por lá andaram cantando e rindo!
    ...E eu tambem sorri ao ver aquele maravilhoso espectáculo!
    E dizem as más linguas como eu que,isto traz água no bico...
    abraço

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  5. Os dois forjado no mesmo torno...
    tanto um como o outros têm culpa no cartório... E o Povo é que sofre na pele...
    Um Abraço

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  6. ana camarra: esse seria, sem dúvida, o mais útil e eficaz empenhamento e esforço dos portugueses - infelizmente, estamos ainda longe disso.
    Um beijo.

    hilário: a política é sempre a mesma; os seus executantes, sempre os mesmos - só que com nomes diferentes...
    Um abraço.

    antuã: e quanto mais depressa melhor. Mas ainda vai demorar...
    Um abraço.

    poesianopopular: com papas e bolos...
    Um abraço.

    ludo rex: feitos pela mesma medida...
    um abraço.

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  7. Como dizia o meu avÔ: são farinha do mesmo saco...
    ... e falam como se anjinhos fossem e não tivessem responsabilidade, e CULPA, da situação em que estamos...

    Um beijo grande

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  8. maria: e como o teu avô sabia o que dizia!...

    Um beijo grande.

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  9. Já que estamos numa de ditos... "quem não os conhecer, que os compre!"
    O diabo é efectivamente parecer que ninguém os conhece...

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  10. samuel: pior do que tudo: conhecê-los e, mesmo assim, comprá-los...

    Um abraço.

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