POEMA

PROFECIA


Quando o palhaço, a quem os barões do carvão
deixam fazer de Chefe na nossa terra, tiver feito
de Chefe tempo bastante,
vai empreender no Continente todo
o papel de Chefe.

Quantos mais canhões tiver
mais ameaças vai soltar.
vai julgar: eles receiam a guerra, mas
um dia há-de ele ter a sua guerra.

Há-de berrar: a velha França
está cansada e quer sossego.
E virão contra ele esquadras de tanques da França.
Há-de berrar: para o povo inglês de merceeiros
a guerra é cara de mais.
E virá contra ele o ouro do Transvaal
e de ambas as Índias.
Há-de berrar: a América
fica muito longe, não tem exército.
E virá contra ele muito próximo
o exército da vasta América que constroi cidades
que têm cem andares.
Há-de berrar: só a União Soviética
espera por nós.
E hão-de vir contra ele os aviões
dos povos soviéticos, quatro vezes consecutivas.
Há-de berrar: os nossos amigos italianos
hão-de vir ajudar-nos.
E não virá ninguém.

E a Alemanha, que na última guerra
ganhou as batalhas todas menos a última,
nesta guerra, tirante a primeira,
há-de perdê-las todas.


Brecht

6 comentários:

  1. Profecia mais que bem vaticinada... Só mesmo Brecht par atingir tal exactidão. Tantas analogias que podemos fazer com o que vivemos hoje. Haja Brecht!
    Abraço

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  2. Fernando Samuel

    Sabes o que eu gostava, sinceramente, é que Brecht deixasse de estar actual....

    beijos

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  3. A certeza de Brecht até me assusta.

    mas mesmo assim acrescento:

    E perdidos...
    na multidão
    confusos...
    Hão-de berrar!

    beijo, amigo
    Ausenda

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  4. Mais uma vez Brecht, actualíssimo...
    (seria vidente?) :)))

    Um beijo grande

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  5. ludo rex: Brecht é hoje...
    Um abraço.

    ana camarra: realmente, talvez já merecessemos isso...
    Um beijo.

    Ausenda: hão-de berrar!: sem dúvida.
    Um beijo.

    samuel: cirúrgico...
    Um abraço.

    maria: se não era... andava próximo...
    Um beijo grande.

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