POEMA

A BOMBA

O primeiro sopro arrancou-lhe a roupa;
o imediato levou também a carne.
Ao longo da rua
durante alguns segundos correu o esqueleto.
Mas a rua já não estava,
estava toda no ar;
de lá caíam bocados de prédios, bocados
de crianças, restos de cadilaques...
O esqueleto não compreendia sozinho
aquela situação:
deixou-se tombar sobre algumas pedras radioactivas
e permitiu na queda o extravio de alguns ossos.

(Caso curioso: o coração
pulsou ainda três ou quatro vezes
entre o gradeamento das costelas.)

Egito Gonçalves

5 comentários:

  1. José Egito Gonçalves, grande poeta realista e tradutor desee a década de 1950. E também um antifacista de longa data, pois participou no MUD e no chamado Congresso da Oposição Democrática de Aveiro. Grande poema, dum grande poeta. Boa semana com tudo de bom.

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  2. Se apenas o coração, masmo que por segundos, sobrevive ao horror, talvez devamos contar mais com ele para o evitar...

    Abraço

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  3. Um poema tão transparente que deu para o ver em "filme"... de terror, em arrepio....
    Curioso, o coração...

    Um beijo grande

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  4. jofre de lima monteiro alves: obrigado pela visita e pelas considerações sobre o poeta e antifascista Egito Gonçalves.
    Um abraço.

    samuel: ai dos que não contam com ele em tudo e, também, na luta de todos os dias...
    Um abraço.

    maria: de facto, é como num filme... de horror...
    Um beijo.

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  5. Grande poeta Egito Gonçalves(este conheço).
    Belíssimo poema sobre o horror da guerra.

    GR

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