POEMA

O SONÂMBULO E O OUTRO

Durante a noite não pregou olho.
Seguia os passos do sonâmbulo sobre o tecto.
Cada passo, pesado e ôco,
ressoava infindamente num canto
vazio de si próprio.
Fica à janela, esperando
apará-lo nos braços, se viesse a cair.
Mas se o outro o arrastasse na queda?
Era a sombra de um pássaro na parede?
Uma estrela? Era o outro? As suas mãos?


Ouviu-se um baque surdo no pavimento.
Amanhecia.
Abriram-se janelas. Os vizinhos acorreram.
O sonâmbulo descia rapidamente
as escadas de serviço
para acudir àquele que tombara da janela.

Yannis Ritsos

4 comentários:

  1. Os recados que os poetas nos dão em dúzia e meia de linhas...

    Um beijo

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  2. maria: em primeiro lugar um beijo de boas vindas!
    Quanto ao poema: os poetas são mesmo assim, não é?

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  3. Não é necessário cair, nos gestos solidários.
    Tenhamos a serenidade necessária e a vontade precisa.

    Só hoje o comento.
    Na realidade aconteceu a um amigo meu, ao tentar ajudar o irmão.

    GR

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  4. gr: insisto: a poesia só o é quando é Vida...
    Um beijo amigo.

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